Resenha: Outros Jeitos de Usar a Boca: a acidez e delicadeza de Rupi Kaur
14:15
Apesar
de serem compreendidas como antônimas, acidez e delicadeza se complementam e se
misturam na obra de Rupi Kaur. Munida de reflexões, metáforas, histórias e
lírica, a autora transporta o leitor para um cenário em que a doçura, o amargo,
a dor e o amor se unem de forma harmônica, bela e impactante.
Dividida
entre “a dor”, “o amor”, “a ruptura” e “a cura”, a obra de Kaur conta de forma
mordaz as suas vivências mais intensas e dolorosas. O livro não oferece uma
narrativa, não é um texto cronológico, cada página abriga um poema escrito pela
autora, com a temática dependendo da parte em que ele está inserido.
Em
“a dor”, os poemas têm a temática mais triste, com altas cargas de melancolia e
nostalgia. Kaur aproveita essa parte para explicitar todas as dores que, não só
ela, como qualquer mulher sofre no cotidiano. O assédio, o machismo, o estupro,
todos os crimes mais comuns contra as mulheres são tratados de forma intensa
pela autora. Pode-se dizer que é um livro com um conteúdo altíssimo de
feminismo, pois luta contra qualquer tipo de desigualdade entre homens e
mulheres, e principalmente deixa bem claro seu repúdio à todas as formas de
violência contra a mulher.
Em
“o amor”, os poemas já trazem uma temática mais doce e delicada, onde a autora
fala de seus amores antigos, de sexos já passados e de homens por quem ela se
apaixonou. Um dos pontos principais da obra como um todo é a sinceridade e
veracidade de cada verso. Com o amor não foi diferente. O amor é tratado de
forma bela, mas nunca idealizada.
Em
“a ruptura”, a autora já mostra a face mais feia do amor. Amores não
correspondidos e relacionamentos abusivos são as temáticas principais dessa
parte, onde os poemas são carregador de alta carga emocional e de dor (algo
muito parecido com a primeira parte sobre dor).
Em
“a cura”, a obra se mostra esperançosa e cheia de otimismo. Aqui, a autora
busca se enaltecer e enaltecer a mulher que está lendo. Incentiva o amor
próprio, o estilo de vida que a mulher escolhe, o livre arbítrio e a liberdade
de escolha, itens que parecem tão inalcançáveis às mulheres.
Ao
analisarmos a obra de perto, é perceptível a carga emocional que ele carrega,
desde a primeira página até a última. Por ter temáticas que são tabus e
intensas, Outros Jeitos de Usar a Boca encanta e prende o leitor que procura
algo diferente no mundo literário. A disposição dos poemas combinados com os
desenhos à mão de Kaur criam um clima aconchegante para se jogar na lírica e
sentir tudo aquilo que a autora está sentindo. Além de ser um livro necessário
para toda feminista ou para quem deseja saber mais sobre feminismo, a obra se
torna universalmente obrigatória por tratar de assuntos que a sociedade deve se
virar e se revoltar para que haja mudança. Livro perfeito para os sonhadores,
revoltados, emotivos, apaixonados e acima de tudo, para quem quer uma boa
leitura.
0 comentários